NOTA TÉCNICA SOBRE A FUMAÇA DAS QUEIMADAS DO PANTANAL EM SANTA CATARINA

(30 DE SETEMBRO DE 2020)

Os incêndios que ocorrem na região do Pantanal podem influenciar o estado de Santa Catarina nos próximos dias. No momento, conforme imagem de satélite mostrada na Figura 1a abaixo, é possível identificar os focos de queimadas na região pelos pontos em vermelho, destacado pelo círculo na cor azul escuro. Na Figura 2b, observa-se as fumaças sendo transportadas para o Paraguai, Argentina e noroeste do Rio Grande do Sul pelo escoamento dos ventos em baixos níveis de quadrante norte, localizados entre 1500 a 2000 m de altura, destacados pela seta de cor azul clara.

No período da noite de hoje (30), os ventos mudam para noroeste e, desta forma, a pluma de fumaça deve atingir a porção oeste do estado catarinense, trazendo como consequências a diminuição na qualidade do ar na região. No decorrer da quinta-feira (01), este escoamento persiste e ainda influencia o estado, podendo chegar também em áreas do centro-leste. Já entre a noite de sexta-feira (02) e madrugada de sábado (03), com a passagem de uma frente fria, trazendo novas pancadas de chuva, não se descarta a possibilidade de algum município observar a água da chuva com cor diferente, ou seja, amarelada ou até mesmo escura, devido aos particulados das fumaças presentes na atmosfera. Após a passagem da frente fria, os ventos tendem a mudar de direção para quadrante sul dissipando a presença de fumaça no estado catarinense.

INFORMAÇÕES SOBRE O USO DA ÁGUA

Sabe-se que a chuva é considerada uma fonte alternativa de água para fins potáveis ou não potáveis. A cisterna é uma tecnologia que pode ter como uma de suas finalidades armazenar água de chuva. Na propriedade rural, a cisterna promove a segurança hídrica e contribui para a viabilidade econômica da atividade, sendo que sua utilização da água armazenada para as rotinas da produção animal é uma prática desejável desde que sejam observados o correto manejo e garantia do atendimento a legislação relacionada à qualidade da água para os diversos usos.

Baseando-se na constatação supracitada, Instrução Normativa do MAPA n. 56/2007 e o Comunicado Técnico 481 publicado pela EMBRAPA, as fontes de emissões de gases e poeiras presentes em uma região podem, de fato, influenciar na qualidade da água armazenada.

Em áreas rurais as principais fontes de emissão que podem impactar negativamente a qualidade da água de chuva são, normalmente, a movimentação do solo, erosão por ventos, aplicação de agroquímicos, produção de animais, entre outras fontes, como a do presente caso proveniente de queimadas, que se tratam de poeiras, partículas, elementos tóxicos e gases que irão depreciar a qualidade da água.

Quando houver a maior presença de produtos potencialmente nocivos à qualidade da água, como os aspectos citados, são recomendadas a intensificação das frequências de limpeza de cada componente do sistema de captação de água de chuva:

Recomenda-se ainda, que sejam analisados parâmetros de qualidade da água, como: pH, sólidos totais dissolvidos, amônia, nitrato, cloro residual livre, coliformes termotolerantes e Escherichia coli. Devido às emissões presentes na região temporariamente, outros parâmetros podem ser analisados como: tipos de agroquímicos, cobre, zinco, ferro, substâncias provenientes da queima de biomassa (marcadores de queimadas), etc.

Análises da qualidade do ar das regiões com predomínio de uso de cisternas para produção animal (região oeste do estado) também são altamente recomendadas para parâmetros como o material particulado, que são indicativos de fuligem que poderá atingir nuvens e dar origem a chuvas contaminadas.

No Quadro a seguir, são apresentadas as opções de tratamento da água sugeridas para cada finalidade:

Para reduzir o impacto dessas fontes recomenda-se aos usuários de água da chuva:

1. Não captar a água das primeiras chuvas, descartando a água da chuva antes de conduzir a água para cisterna. O recomendável é no mínimo os primeiros 2 mm de chuva ou até desaparecer a coloração escura;

2. Utilizar cercas vivas no entorno das instalações que irão captar a água da chuva;

3. Elevar o tempo de uso do dispositivo que possibilita o desvio da captação de água da chuva inicial;

4. Intensificar a limpeza periódica das instalações de cobertura, condução, filtragem e armazenamento de água

5. Obter conhecimento da escala de uso de agroquímicos nas propriedades vizinhas;

6. E, principalmente, apurar as análises de qualidade da água para verificar o atendimento a legislação relacionada à qualidade da água, a exemplo de: Resolução CONAMA 357/05, NBR 15527:07 e IN MAPA n. 56/2007.