Desastre do Morro do Baú completa 13 anos.

Há 13 anos o município de Ilhota, no Vale do Itajaí, ficou conhecido nacionalmente por ser o epicentro de um desastre que marcou Santa catarina e tirou a vida de 135 pessoas, destas 47 no município. Era uma noite de sábado, como qualquer outra, chovia há alguns dias quando os índices pluviométricos se intensificaram e surpreenderam milhares de pessoas. Com o solo saturado as encostas, localizadas na área conhecida como Morro do Baú, desabaram levando milhares de toneladas de terra, pedras e entulho em direção de uma pacata comunidade. O fluxo de detritos avançou destruindo propriedades e ceifando vidas.

A localidade do Morro do Baú ficou isolada devido a dezenas de escorregamentos e sem comunicação, pois não era atendida pelo serviço de telefonia móvel. A madrugada foi de dor e incerteza já que o verdadeiro alcance dos estragos apenas foi possível perceber quando amanheceu. Aos poucos, os sobreviventes foram se reunindo na igreja da localidade e as informações de mortos e desaparecidos chegando. Em pouco tempo o local começou a ser usado para receber os corpos das vítimas que eram encontradas.

Área atingida no Morro do Baú. Foto: Arquivo DCSC.

A lembrança na verdade nos traz todos os sentimentos daquele dia. Eu morava abaixo da igreja e não sabia a intensidade do evento”, recorda a moradora Margarida Reichert. Ela fazia parte da coordenação da igreja e foi informada naquela manhã que teria que abrir o santuário para apoiar as famílias da área destruída. “Eu não sabia se minha família estava bem. A cena triste foi ver as pessoas voltando todas sujas de lama descalças”, comentou. Logo após Dona Margarida recebeu do marido a notícia da morte de familiares. “Ele chegou e falou que tinha que ser forte por que encontraram meu irmão abraçado com a filha e o neto”, comentou. Naquele dia a dona de casa perdeu oito parentes. “Era muita tristeza, parecia que estávamos anestesiados”,completou

Uma grande operação foi montada pelo Governo de Santa Catarina, bombeiros, policiais militares, técnicos da educação, da saúde e do instituto Geral de Perícias foram deslocados. A operação também contou com o apoio de militares das forças armadas. Os primeiros profissionais apenas puderam chegar com o apoio de helicópteros já que a região estava totalmente isolada. O primeiro voo apenas pode ser realizado na manhã do dia 24 devido ao mal tempo. Na aeronave estava o então Capitão do Corpo de Bombeiros Militar, Aldo Baptista Neto. “Não tínhamos informações que dessem a dimensão do evento. A partir de pedidos de ajuda de familiares, que não conseguiam falar com os parentes no Morro do Baú, fomos deslocados para o local”, comentou Neto, que hoje é Coronel da Reserva do CBMSC e Chefe Adjunto da DCSC. Ele relembra que no sobrevoo as equipes começaram a ver pedidos de ajuda escritos no chão e aos poucos a realidade foi sendo mostrada. “Era uma situação extremamente tensa e difícil. As pessoas estavam sem roupas, enroladas em lençóis e tolhas, e cobertas de lama. Ao lado podíamos ver corpos de vítimas”, comentou emocionado.

Em um primeiro momento foram retirados os feridos, mas o clima não deu trégua e a chuva se intensificou novamente. “Nós ficamos sem teto para operar as aeronaves e as encostas voltaram a desabar”. Disse. O militar colocou as vítimas em um local seguro até que os helicópteros pudessem atuar novamente. “Na primeira semana retiramos cerca de 2500 pessoas por via aérea”, completou Coronel Neto, que destaca que essa foi a Operação mais difícil de sua carreira.

Monumento contruído em memória das vítimas do desaste. Foto: Flávio Jr / ASCOM DCSC.

Mudanças após o desastre

Grandes lições foram aprendidas com o desastre de 2008 e toda a estrutura do Sistema de Proteção e Defesa Civil de Santa Catarina foi revista e aperfeiçoada. Atualmente a Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) é considerada referência nacional e internacional tanto pela estrutura quanto pelas ações desenvolvidas.

Dentro destes melhoramentos podemos citar a criação dos Centros Integrados de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CIGERDs), sendo o Estadual em Florianópolis e outros 20 Centros regionais espalhados pelo Estado, que foram pensados para dar suporte durante o monitoramento, planejamento e andamento dos mais diferentes tipos de operação. Também foi criado, junto ao CIGERD, o Centro de Monitoramento e Alerta que realiza o acompanhamento das condições meteorológicas e emissão de alertas e informações para que a população possa se preparar para a chegada de eventos extremos. Dentro desta reestruturação a Defesa Civil de Santa Catarina conta ainda com áreas voltadas para a educação, comunicação e tecnologia da informação.

Já no Corpo de Bombeiros Militar foi estruturado o serviço de busca com cães, o Batalhão de Operações Aéreas (BOA) e foram criadas as forças tarefas, que são grupos especializados que podem atuar de forma independente nos mais diferentes tipos de situação.

Complexo do Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastes (CIGERD). Foto: Flávio Jr / ASCOM DCSC.