Retrospectiva meteorológica DC/SC: 11/2023 – Novembro marcado por muita chuva e eventos extremos em Santa Catarina

Assim como já havia ocorrido no mês de outubro, em novembro a chuva continuou ocorrendo de forma intensa, persistente e abrangente no estado. Diversos municípios que haviam sofrido com enchentes no mês anterior voltaram a ser atingidos pelas inundações graduais. Outros municípios foram atingidos por enxurradas, que encontraram o solo saturado e rios e ribeirões já cheios, resultando em inundações rápidas. Os deslizamentos foram outra marca deste mês, isso sem falarmos dos 6 tornados confirmados em diversas regiões catarinenses (Tabela 1) e de um tsunami meteorológico registrado em Laguna no dia 11.

Os sistemas meteorológicos mais observados ao longo do mês foram baixas pressões em diversos níveis da atmosfera, o Jato de Baixos Níveis (JBN) direcionado para o Sul do Brasil e frentes frias, que avançavam pelo Sul do Brasil associadas a sistemas de baixa pressão no sul do Paraguai. Os bloqueios atmosféricos tiveram, também, grande influência na manutenção do JBN estendido sobre Santa Catarina e também de um longo cavado em médios níveis da atmosfera. Ambos resultaram em um canal de tempestades, que manteve a frequência da chuva, que hora cobria todo estado catarinense e hora se posicionava mais na porção oeste e/ou na porção leste. Como resultado tivemos volumes de chuva bastante expressivos, principalmente em áreas de divisa com o RS, do Centro ao Norte da ilha de Florianópolis e em parte do Alto Vale do Itajaí, Planalto Sul e do Meio-Oeste, onde os acumulados somaram entre 400 e 500mm, com destaque para o Extremo Sul do Litoral Sul, onde os acumulados ultrapassaram 600mm, como mostra a Figura1. Nas demais regiões, os acumulados variaram entre 200 e 400 mm, com exceção de uma pequena área no Planalto Norte, onde os mesmos ficaram ligeiramente dentro da média  climatológica mensal.

Tabela 1: Relação de tornados ocorridos em SC no mês de novembro de 2023.

 

Figura 1. Distribuição espacial da chuva acumulada ao longo do mês de novembro de 2023 em Santa Catarina. Dados:  DCSC, Epagri/Ciram, ANA e INMET. Arte: Defesa Civil de Santa Catarina.

Avaliando o mapa de anomalias de precipitação apresentado na Figura 2, é possível observar que em todas as regiões os volumes acumulados no mês superaram a média climatológica.  Em algumas áreas da divisa com o Rio Grande do Sul choveu mais de 3 vezes o esperado para novembro. Nas demais regiões catarinenses, a anomalia de chuva ficou acima da média, variando entre 1 a 2 vezes essa.

 

Figura 2. Distribuição espacial da anomalia de chuva ao longo do mês de novembro de 2023 em Santa Catarina. Dados:  Epagri/Ciram, ANA e INMET. Arte: Defesa Civil de Santa Catarina.

 

Um fator importante a ser ressaltado é a influência do fenômeno El Niño, que atingiu passou a apresentar forte intensidade. O que chama atenção ao observar a Figura 3 (anomalias de temperatura da superfície do mar referentes ao mês de novembro), é que não é apenas o Pacifico Equatorial que está aquecido e sim boa parte dos oceanos, principalmente na região equatorial e no Hemisfério Norte. Esse comportamento provavelmente também contribuiu para o excesso de chuva no Sul do Brasil e que certamente será tema de estudos posteriores. 

Figura 3. Anomalias de temperatura da superfície do mar em novembro de 2023. Fonte: CPTEC/INPE.

 

Com todo esse excesso de chuva, ocorrências de todos os tipos foram reportadas e atendidas pela Defesa Civil, como mostra a Figura 4. Assim como já comentamos, a persistência da chuva desde o mês anterior fez com que as ocorrências relacionadas a deslizamentos se apresentassem em maior número, seguida por enxurradas, alagamentos e vendavais relacionados a tempestades. Este foi o mês com maior registro de tornados no estado, o que também é indicado no gráfico.

Figura 4. Distribuição percentual de ocorrências por tipo em Novembro 2023. Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina.

O mapa a seguir, Figura 5, mostra a distribuição espacial das ocorrências em Santa Catarina. A partir dele é possível verificar que praticamente todas as regiões apresentaram algum tipo de ocorrência, sendo o Grande Oeste a porção do estado com maior número de registros. Outra constatação interessante é a tendência de predomínio de tipo de ocorrências que pode ser identificada no Litoral Sul, relacionadas a vendaval, no Vale do Itajaí relacionadas a inundações e deslizamentos, enquanto que no Grande Oeste elas foram originadas por todos os tipos de eventos.

Figura 5. Distribuição espacial das ocorrências atendidas pela DC/SC em Novembro de 2023. Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina.

 

No gráfico abaixo, Figura 6, são apresentados dia a dia os eventos meteorológicos que resultaram em ocorrências. Dentre eles destaca-se o dia 16 de novembro quando foram reportadas 75 ocorrências, causadas por todos os tipos de eventos meteorológicos.

 

Figura 6. Ocorrências por data em Novembro de 2023. Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina

 

No dia 16 de novembro, o avanço de uma frente fria pelo mar, associada a um sistema de baixa pressão no Paraguai e ainda o intenso fluxo de calor e umidade da região amazônica para áreas entre o norte do RS e SC, provocou chuva abrangente no estado além de tempestades severas que atingiram sobretudo o oeste catarinense, onde inclusive houve registro de um tornada, mais especificamente no município de Itá no período da madrugada.

 As imagens do Radar Meteorológico de Chapecó, Figuras 7 (a) e (b) , mostram tempestades na região, por volta da meia noite. Estas tempestades apresentavam potencial para descargas elétricas, intensas rajadas de vento e queda de granizo, assim como alagamentos e enxurradas devido a intensidade da chuva. Especificamente entre os municípios de Seara e Itá, as imagens do radar meteorológico, apresentam características de tornado. Na Figura 7 (a), que apresenta a refletividade observada (dBZ), é possível observar a formação de um gancho na retaguarda da tempestade, característica associada a células de tempestade com potencial para formação de tornados. A Figura 7 (b) mostra o campo dos ventos estimados pelo radar. Nesta foi observado um padrão de dipolo por volta de 1km de altura. Isto indica que, nas regiões mais próximas da superfície, os ventos estavam com intensidade muito forte e apresentavam rotação.

Figura 7. Imagens do Radar Meteorológico de Chapecó, (a) refletividade observada (dBZ) e (b) ventos estimados pelo radar. Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina

 

As imagens constantes na Figura 8, mostram os danos causados no município de Itá, onde dezenas de eucaliptos ficaram retorcidos e alguns foram removidos pela raiz.

Figura 8. Registros fotográficos de danos causados por tornado no município de Itá na madrugada do dia 16/11/2023. Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina

 

Outro evento meteorológico, bastante raro de ser observado, ocorreu no dia 11 no Litoral Sul de Santa Catarina, mais precisamente no município de Laguna, um tsunami meteorológico. Neste dia, as temperaturas extremamente altas, com máximas que chegaram aos 40,3°C em Urussanga (a maior temperatura para o mês de novembro desde 1985), 38,6°C em Siderópolis, 38,1°C em Nova Veneza, 37,8°C em Gravatal e 36,9°C em Tubarão, além de sistemas de baixa pressão em diversos níveis da atmosfera, formaram uma Linha de Instabilidade (LI) que atingiu o Litoral Sul catarinense. Linhas de Instabilidade (LI), como mostra a imagem da refletividade do radar de Lontras em tons de vermelho escuro e rosa (Figura 9), são aglomerados de nuvens de tempestades organizadas em forma de linha, que apresentam alto potencial de tempestades severas e danos. A deste sábado 11/11, além de provocar vendaval em muitos municípios do sul catarinense, deu origem a um fenômeno bastante raro, um tsunami meteorológico em Laguna, além de um tornado em Tubarão.

Figura 9. Imagens do Radar Meteorológico de Lontras campo de refletividade (dBZ). Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina.

 

Figura 10. Imagens da ocorrência do Tsunami Meteorológico na Praia do Cardoso em Laguna, no Litoral Sul de SC. Fonte: Defesa Civil de SC.

Por fim, os registros fotográficos da Figura 11, são de danos causados pelo tornado que atingiu o município de Tubarão, também na tarde do dia 11/11, resultado da mesma LI responsável pelo tsunami meteorológico.

Figura 11. Estragos causados pelo tornado em  Tubarão/SC na tarde do dia 11/11/23. Fonte: Defesa Civil de SC.