Professor da Udesc explica como funciona a próxima etapa do Plano Diretor da Estiagem

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Foto: Paulo Cesar Santos-Ascom/SDC

Depois de finalizada a primeira fase dos trabalhos de levantamentos de informações para elaboração do Plano Diretor da Estiagem de Santa Catarina, com teor em sua magnitude teórica, os profissionais, técnicos e estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina – Udesc começam trabalhar os preparativos para a segunda fase dos trabalhos que se concentram no Oeste de Santa Catarina.

Ascom/Defesa Civil de Santa Catarina: Como funciona o processo de pesquisa nessa segunda fase?

Professor Mário Jorge Coelho de Freitas- UDESC: Esta primeira fase foi essencial em diagnóstico. Essencialmente documental. Ou seja, pegar dados das mais diversas fontes disponíveis estaduais e nacionais. E, compilá-las, tratá-las, analisá-las, complementá-las. Essa segunda parte, é a parte de trabalhar com as pessoas. O que significa que nós vamos fazer visitas, em primeiro lugar fazer visitas de campos, pra identificar boas e más práticas, falar com agentes relevantes. E, por outro lado fazer oficinas com uma linguagem muito simples, com setores convidados como que serão defesa civil, outros setores técnicos e sociedade civil e socioeconômico interessado: agricultura, indústrias, vão ser chamados a participar e através de uma metodologia de identificação do problema, sugerindo alternativas bem não técnicas, cruzar depois com informações técnicas. Então, esse encontro entre a participação das pessoas, como elas veem a estiagem, que causas atribuem e que soluções podem ser utilizadas e os dados recolhidos, trabalhar para dar essa visão do caminho para fazer um Plano Diretor de Estiagem, para criar um mecanismo de resiliência comunitária.

SDC: Já tem uma estimativa de quantas famílias ou quantas pessoas em todo o Grande Oeste devem ser ouvidas, ou ainda é um levantamento a ser feito a partir desse primeiro momento?

UDESC: O projeto é de um ano. Então, nós trabalhos quatro meses no diagnóstico. Tudo que está acordado nesta primeira fase é ser nível de Região. Então, vamos juntar por microrregião. Ou seja, São Miguel do Oeste, Chapecó, Concórdia, Xanxerê e Joaçaba. Claro que os municípios vão estar todos presentes. E vão ser motivados a partir daí. Mas não vai ser um trabalho de nível municipal, mas sim de microrregião. A gente espera que os Coordenadores Regionais, e em articulação com outros setores do Estado, possam estar levando para os municípios. Como está s desenvolvendo outro trabalho com a Defesa Civil no que diz respeito aos Planos de Contingência, eu tenho esperança que mais tarde, durante os próximos três anos, quando nós voltarmos com os Planos e Contingência, todo esse trabalho se rearticule e dê mais força ao que a gente agora faz ao nível microrregional.

SDC: Nessa primeira fase ouve dificuldade no levantamento de informações, ou a Região é muito rica em documentos.

UDESC: Não. Houve muita dificuldade. Isso é passado para a Secretaria e Diretoria de Prevenção. Há dificuldade por vários motivos. Primeiro, é difícil coletar dados porque muitas vezes existem instituições dizem não poder nos fornecer. Porque nem todos são deles. É uma instituição pública, porque alguns são privados. Então, fica um processo muito longo, como todos processos que você conhece, burocráticos.  Então, o que se consegue obter, são dados parciais. O que impossibilita muitas vezes, por exemplo, sobre clima. Nós estamos fazendo uma abordagem totalmente nova, baseada em reanalise. Que interpreta imagens de satélites, por insuficiência de dados. Por outro lado, os dados muitas vezes não estão corretos. Vou lhe dar um exemplo que quase é gritante, mas é verdade! Os dados, por exemplo, do Sistema Nacional sobre o número de estiagem não estão corretos. Eles foram feitos a partir de uma por vezes duplicam, três quatro documentos para um mesmo evento. Então é só um nível. Então, o conjunto, essa filtragem de informação, conjugado com alguma dificuldade de obtenção de dados dificulta muito o trabalho. Finalmente o terceiro ponto: os dados muitas vezes não estão numa escala espacial congruentes. Ou seja, tem dados, que estão em nível de Bacia, mas nos estamos trabalhando política administrativa na microrregião do município. Tem dados geológicos, cobertura de solo a uma escala que não se aplica a que nós trabalhamos. Então, é muito difícil. O Estado, a Defesa Civil, claro, mas o Estado como um todo terá que começar criar condições para a coleta de dados sistemática, numa base de trabalho que possa ser cruzada.

SDC: Quando a gente fala dessa segunda fase, ela vai dar o norteador para que se conclua também os métodos, as práticas a serem desenvolvidas na Região?

UDESC: É essa ideia sim. Quando eu disse que as oficinas vai trazer a opinião desses atores, sobre como eles identificam as causas e fatores condicionantes da estiagem. Como eles veem soluções e como ponderam cada uma das soluções. E confrontar com nosso ponto de vista. Em princípio será um conjunto de evidência, que juntamente com o trabalho que nós realizamos, vai nos permitir sugerir aspectos centrais para o Plano Diretor que a Defesa Civil vai elaborar. Então, estou convencido que já sai um material bastante adiantado, mas obviamente que depois terá que ser parametrizado e tem que ser no Plano Diretor. Um objetivo também do projeto, que estamos trabalhando é esquemas causais. O que nós estamos trabalhando no final é fazer o que condiciona a demanda da água e o que condiciona a disponibilidade da água. E desses esquemas, é que vamos identificar os estrangulamentos. Onde é que, portanto, tem que haver atuação pública da Defesa Civil e de outros setores do Estado. Acho que também é um outro tipo de abordagem. Abandonar as abordagens mais simplistas e trabalhar numa questão de abordagem de sistemas, sistêmicas, complexas de entender e fazer isso junto com as pessoas, numa linguagem mais acessível.

SDC: O Desafio nessa segunda fase maior é a compreensão ou auxílio mútuo da comunidade e poder público?

UDESC: Acho que é. É conseguir criar esse diálogo de cooperação. Porque nós temos a perspectivas de atribuir responsabilidades, as culpas ou que seja. Ou dizer, “Não, isso é responsabilidade de tal…” Efetivamente, o problema da estiagem compete a todos. E se nós conseguirmos criar esse clima de cooperação entre a comunidade, órgãos públicos, todos, e a Defesa Civil. Acho que toda a gente vai ser beneficiada. A resiliência não é da Defesa Civil,  a resiliência é da comunidade.

Segundo o professor, serão 118 municípios beneficiados com o Plano Diretor na Região Oeste. De acordo com os primeiros levantamentos, o que contribui para o cenário de estiagem prolongada nesses municípios é o uso inadequado dos recursos naturais. O comparativo foi feito, através de informações da década de 1970.

Para se ter uma ideia da importância de ter um documento como o Plano Diretor da Estiagem, é só dimensionar o cenário, entre 1991 e 2012. Foram registradas 1.518 ocorrências de estiagem e ou seca, no Estado. A grande maioria, no Oeste Catarinense, 1.170 casos. Os municípios que tiveram maior volume de acontecimentos foram Coronel Freitas, 18 fatos, Itapiranga e Jaborá com 17 cada um.

Conforme o Diretor de Prevenção, Fabiano de Souza, os trabalhos de campo terão início na próxima semana. “Na semana que vem começam as oficinas de campo. Identificar causas e consequências. Boas práticas da comunidade serão analisadas,” ponderou.

Ouça a entrevista: